2003

Policarpo Quaresma e a questão da língua brasileira

Ricardo Lísias estreou com Cobertor de Estrelas (Rio de Janeiro: Rocco, 1999), que será publicado na Espanha, em galego e depois em castelhano, ainda em 2005. Publicou, ainda, as novelas Capuz (são paulo: hedra, 2001) e dos nervos (São Paulo: Hedra, 2004). Escreveu textos críticos esparsos, algumas resenhas para jornais e trabalhos de literatura infantil. Traduziu, dentre outros, Oliver Twist, de Charles Dickens, e Flor do Deserto, de Waris Dirie. Graduado em Letras pela Unicamp, é mestre em Teoria Literária pela mesma universidade e doutor em Literatura Brasileira pela USP.

A sexualidade

Flávio Gikovate analisa que na cultura ocidental, o sexo sempre esteve associado à agressividade, ao jogo de poder, à competição, ao consumismo e à guerra dos sexos e não ao amor. Para Gikovate, a raiva puxa o desejo e está presente nas escolhas afetivas. Seu livro A libertação sexual fundamenta-se na ideia de que esta associação precisa ser desfeita em dois fenômenos distintos. Para ele, amor é uma sensação de paz e aconchego que se experimenta com o outro e sexo é uma sensação física de excitação que pode se experimentar sozinho.

Flávio Gikovate: médico psicoterapeuta formado pela USP em 1966, foi assistente clínico no Institute of psychiatry da Universidade de Londres. Colaborador de diversas revistas e jornais, autor de mais de 20 livros sobre os principais aspectos dos conflitos íntimos, especialmente os relacionados com a vida afetiva e sexual.

Édipo, adeus: o enfraquecimento do pai

“Pra aceitarmos a questão do Édipo, nós temos que aceitar a premissa fundamental que é a premissa do conflito do homem com a civilização. Se nós não aceitarmos essa premissa, nós não vamos falar em Édipo. O que Freud entende por conflito entre homem e a civilização? Quer dizer que entre o homem e a civilização não existe acordo possível. Porque tem sempre alguma coisa com ruído que rompe qualquer possibilidade de harmonia. Então existe sempre alguma coisa que lembra desse distanciamento e que nos leva a retomar a conversa. Se não fosse assim a gente fazia amor uma vez só na vida. Mas assim que a gente termina de fazer amor e diz eu te amo, a outra pessoa pergunta “mas ama mesmo?”. Quer dizer, a base freudiana diz que entre a pessoa e o mundo necessariamente existe uma distância. O homem não é co-natural, nem se comer o sanduíche natural da praia de Ipanema. O maior poeta brasileiro, tido como o maior poeta brasileiro, diz que não funcionam as tentativas que o homem pode fazer de ficar mais perto do mundo. Que o máximo que a gente consegue fazer ao tentar ser igualzinho ao mundo, por não suportar a distância em relação ao mundo, é fazer uma rima, mas jamais uma solução. Ou seja, se ele, Carlos Drummond de Andrade, resolvesse se chamar Raimundo, porque assim ficaria mais próximo do mundo, ele ainda assim teria uma rima, mas não uma solução. E o poeta diz do porquê disso, ao falar ‘porque é mais vasto o meu coração’. Porque tem algo na singularidade de cada um que está eternamente em conflito com qualquer resposta que o mundo possa dar. Nesse sentido, a psicanálise está muito longe de ser uma relação de harmonia. A psicanálise é a administração de conflito, igual à dívida brasileira, que não se paga, se administra”. Com o psicanalista Jorge Forbes.

Comer demais

Paulo Gaudêncio fala sobre comer demais e de outros excessos que cometemos, como resultado de fatores físicos, psicossomáticos, emocionais. Explica que o ser humano tem conflitos, mas faz escolhas buscando a satisfação. O que está em foco nesta palestra é a forma de lidar com nossas emoções básicas, como a angústia e a ansiedade, que podem resultar em frustração e busca de compensação. Gaudêncio nos mostra a diferença entre ser maduro e imaturo e nos ensina que aquele que melhor souber lidar com suas emoções, mais chances terá de ser feliz.

Tristeza

Este Café Filosófico, da série Balanço do Século XX – Paradigmas do Século XXI, tem como tema a tristeza, sob coordenação da filósofa Márcia Tiburi . Márcia Tiburi é professora do programa de pós-graduação em Filosofia e apresentadora do programa A bela e a Fera da TV Unisinos – Futura. A tristeza enquanto afeto tem uma história e Márcia Tiburi toca no núcleo atemporal desta questão. Estamos sempre submetidos ao presente e à impossibilidade de retornar a este presente. Não tocamos nem no passado, nem no futuro e ao mesmo tempo não podemos tocar nem mesmo no próprio presente. Sempre submetidos à sensação de finitude, a experiência da dor aparece como caráter efêmero e passageiro da existência. Ficar triste neste contexto é justamente se deparar com a dor de morrer e de morrer a conta-gotas, a cada momento, a cada instante. Esse sentimento está sempre acompanhado do luto e da melancolia e, no momento da nossa época, com a depressão. É necessário aprender para tornar a tristeza algo mais suportável, mas isso depende de uma compreensão histórica e cultural. É o que ela faz ao percorrer este sentimento, iluminando grandes filósofos e pensadores da história e provocando uma profunda reflexão quando diz que estamos vivendo o tempo de agora, uma verdade e uma beleza deste instante.

O excesso e o ideal de equilíbrio

“Édipo é o homem que faz a conexão entre o conhecimento e a ação. Nesse sentido ele quer saber tudo. Ele pode ir ao mais fundo que seja. E ele quer saber para agir. O saber dele é a condição de agir. À medida que ele faz esse inquérito, ele talvez descubra o que aconteceu, ele se tornará capaz de resolver o problema. Ele é um homem que resolve, portanto. E ele se recusa diante disso. E ele reage inclusive dizendo “vocês acham que eu sou filho de um pastor”? Ele não percebe o que está acontecendo. Ele diz “você e a minha mulher tem vergonha da minha origem, acha que está se rebaixando ao estar com o filho de um humilde pastor?”. Não entende nada . É espantoso como esse homem que acreditava saber o que era o homem, e que dessa maneira derrotou a Esfinge, de repente não percebe a tempestade que se avoluma sobre a face dele. Então ele afirma isso e continua tentando saber mais para agir mais, sem perceber que ele está chegando a um ponto em que o saber se torna a causa da inação. O saber vai se tornar justamente o que pesa tanto, que ele não poderá agir, apenas se auto-destruir. Então, de certa forma, Édipo é uma tragédia que pode ser resumida numa palavra grega que se aplica a todo o mundo trágico. Essa palavra é hybris. Ela pode ser traduzida como excesso, mas excesso como aquilo que foge à medida que é a que deve funcionar entre os humanos, ou mais até entre o mundo que estamos, no cosmo. Para que o cosmo funcione, há que cumprir uma medida. Quem vai além disso, quem é demasiado altivo, demasiado ambicioso, quem almeja mais do que está facultado ao humano comete este excesso, que é a hybris”. Com o professor Renato Janine Ribeiro, doutor e professor titular na USP. Dentre suas obras destaca-se Sociedade contra o social – o alto custo da vida pública no Brasil, prêmio Jabuti em 2001.

A pornografia

Eliane Robert Moraes fala sobre a representação erótica no âmbito da literatura e do ponto de vista histórico, abordando a distinção feita pelo senso comum entre erotismo e pornografia. A ideia de que o erotismo seria aquilo que é velado, em contraposição à pornografia, está na base de um apelo moral que também varia a cada época. A difusão da pornografia no último século ocorre com a consolidação, de um lado, de um comércio de repertório considerado obsceno e, de outro, de novas representações do sexo como arte erótica. Para ela, a pornografia revela uma forma de conhecimento que supõe um aprendizado e uma possibilidade transformadora. Eliane é doutora em Filosofia pela USP, professora de Estética e Literatura na Faculdade de Comunicação e Filosofia PUC-SP, crítica literária e autora de obras como Marquês de Sade – um libertino no salão dos filósofos.

Um elogio do excesso

O psicanalista e médico psiquiatra, jorge forbes apresenta o tema ‘Um elogio do excesso’, da série Café Filosófico em ‘Balanço do século XX – paradigmas do século XXI’. Na palestra Jorge Forbes explica como é que se cria a ponte entre o indivíduo e o mundo, fazendo uma análise dos padrões de comportamento da sociedade. Segundo ele, ‘o mundo é uma coisa que a gente interpreta’. Conhecer o posicionamento das pessoas é um passo muito importante para suas escolhas afetivas e profissionais, assim como também é muito importante saber optar, pois o estresse é causado justamente pela incapacidade de se fazer escolhas. Aqueles que são menos covardes para enfrentar os momentos conseguem mais facilmente chegar a soluções para seus problemas.

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