Café Filosófico

A crise dos gêneros

Segundo Ivan Capelatto, a crise do gênero não é uma crise solitária. Não é uma questão de ser homem ou ser mulher. O que está em crise é o processo básico de identificação, a formação de um eu, a formação de um ego, a formação de uma crítica pessoal que permite que, no auge da angústia, alguns de nós possam fazer uma poesia, pintar um quadro, se apaixonar. A sociedade contemporânea desistiu de oferecer padrões de identidade psíquica, só oferece padrões de identidade social e é deles que nós começamos a viver, de símbolos. O símbolo da roupa, o símbolo do sexo, etc. Ivan Capelatto é psicólogo clínico e psicoterapeuta de crianças, adolescentes e famílias. Fundador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Autismo e outras Psicoses Infantis (GEDAPI), e supervisor do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicopatologias da Família na Infância e Adolescência (Geic) de Cuiabá e Londrina. Professor convidado do The Milton H. Erickson Foundation Inc. (Phoenix, Arizona, Estados Unidos da América) e professor do curso de pós-graduação da Faculdade de Medicina da PUC/PR. Autor da obra “Diálogos sobre a afetividade – o nosso lugar de cuidar”.

Casamento sem sexo

O casamento, como mostra o teatro, a literatura, o cinema, desde sempre, uma fonte inesgotável de atritos, afirma o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC-SP e coordenador da revista de psicanálise Percurso. Nesta palestra ele convida para uma reflexão sobre casamento sem sexo.

O enfrentamento das desigualdades sócio-territoriais e a necessidade de valores éticos

O objetivo do debate é discutir as referências teóricas para o enfrentamento dos processos de segregação e exclusão socio-espaciais que estruturam as cidades desiguais nas cidades pobres. Aldaiza Sposati, professora da PUC-SP, doutora em Serviço Social, é pesquisadora das desigualdades sociais urbanas. Márcio Pochamnn, do Instituto de Economia da Unicamp, é secretário municipal do desenvolvimento, trabalho e solidariedade de São Paulo.

Política territorial e capacidade administrativa

A gestora Miriam Belchior fala sobre o quanto a capacidade administrativa pode tolher as possibilidades de uma política territorial. “É fundamental considerar o pano de fundo em que esse debate se insere, que é a crise do Estado, e que estabelece limites e oportunidades para a discussão e para o aumento da capacidade administrativa. É na década de 1980 que se começa a questionar o tamanho do Estado de bem estar social. E começa a aparecer o jargão de Estado mínimo. Tudo é o mercado. Do lado do mercado está o bem. Do lado do Estado está o mal. Felizmente essa dicotomia acaba na década de 1990, quando a discussão passa a ser sobre o novo papel do Estado. Nesse contexto, falar de crise administrativa é falar sobre o limite que o Estado coloca sobre as iniciativas para o seu fortalecimento. Na medida em que se nega o espaço legítimo, qualquer iniciativa de fortalecê-lo é vista como desnecessária. Ou seja, ele momento de crise do Estado coloca um limite pra quem quer aumentar a capacidade do Estado funcionar melhor. Então qualquer contratação no âmbito do Estado é vista como empreguismo, mesmo em áreas que não tem nenhum aparelhamento, como a área ambiental, que é muito recente. Mas falar sobre capacidade também é falar sobre oportunidade. Afinal, se está em crise, é preciso melhorar seu funcionamento. Promover o enfrentamento das três dimensões da crise: a econômica (incapacidade para o financiamento), administrativa (burocratizada, centralizada, ineficiente) e política (distanciada dos cidadãos)”. Também com Eduardo Marques.

O mundo-fronteira

Paulo Eduardo Arantes é doutor em Filosofia pela Universidade Paris 10. Ele nos leva a uma reflexão sobre o mundo-fronteira. É verdade que o mundo já não é mais o mesmo desde 11 de setembro. Não é fácil, porém, dizer o que mudou. Entre tantas interpretações, gostaria de comentar uma particularmente abrangente segundo a qual a era do espaço teria chegado a seu termo, deixando claro que a Terra havia se tornado uma terra de fronteira global. Analisar a crise exige da Filosofia tanto voltar-se criticamente sobre si mesma, como lançar-se contra seus limites para mergulhar em vários aspectos da nossa experiência atual. A prática, a concepção de guerra, a articulação entre Teologia e Política, as diferentes faces da nossa modernidade e suas vertentes éticas e estéticas.

A aurora do século XXI: onde estamos?

Bento Prado Júnior é professor titular da Universidade Federal de São Carlos e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Ele propõe uma reflexão sobre como as mudanças e as reviravoltas na História impuseram fatos que nos obrigam a pensar no lugar da Filosofia no mundo e seu futuro imediato. “Quando eu me propus ao tema, eu tinha em mente um dos paradoxos da nossa contemporaneidade, o que há de fortemente regressivo nos processos desencadeados pelas novas tecnologias e pela nova economia, que nos conduziram a um renascimento do espírito bélico e a uma espécie de guerra planetária.”

O retorno do teológico-político

A convidada é Marilena Chauí, mestre, doutora livre-docente, titular em Filosofia pela USP, que reflete sobre o retorno do teológico-político. “O meu objetivo é examinar um pouco por que é que as guerras contemporâneas aparecem como se fossem guerras de religião. Evidentemente elas não são guerras de religião, nunca houve guerras de religião, isso não existe, mas é interessante saber porque é que essas guerras aparecem dessa maneira. E portanto a questão que eu vou me colocar é a do retorno de uma concepção da política na qual há uma presença muito forte não só da religião, mas da Teologia.”

Políticas territoriais, democracia e atores sociais

Com a urbanista Raquel Rolnik, Silvio Caccia Bava (sociólogo e diretor do Instituto Pólis), e Marcelo Balbo (diretor do curso de mestrado em Planejamento Urbano e Territorial para países em Desenvolvimento do Instituto Universitário de Veneza, na Itália). O objetivo do debate é problematizar os processos de participação cidadã de articulação entre os diversos atores sociais e de constituição de redes sociais na produção e transformação dos territórios.

O lugar dos pobres na cidade – modelos de provisão habitacional e política urbana

Fala Laura Bueno, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas: “É necessário uma definição de qual é o espaço que as pessoas pobres, mais pobres, vão ter na cidade, para que elas tenham acesso à cidade. Não o espaço segregado, de má qualidade. Porque a maior parte da nossa população, e ainda mais se vemos em escala brasileira e latino-americana, não tem rendimentos próprios, não gera renda suficiente para adquirir a maior parte dos bens no mercado, especialmente a moradia. Porque a moradia é uma mercadoria especial. Ela é uma mercadoria que requer muitos recursos financeiros para a sua produção, tanto que o próprio empresário precisa de financiamento para construir a moradia, e requer também financiamento ou muita poupança para o seu consumo, para comprar uma casa. Todos nós sabemos que a moradia é o bem mais caro. Você consegue comprar um carro, uma televisão, todos os eletrodomésticos, com facilidades de financiamento, inclusive muito maiores, do que uma casa.”

Entre a modernização instrumental e a emancipatória

A modernidade é bifronte. Uma face beberiana, voltada para a racionalidade instrumental, e uma face iluminista, voltada para a racionalidade comunicativa. Não se trata de fazer apoteose da modernidade funcional, hegemônica, nem de superar a modernidade por um salto para a frente, pós-moderno, nem tampouco de regredir para o arcaico – fundamentalismos etc. Mas de despertar de seu sonho secular a outra modernidade.

O cinismo contemporâneo

Vladimir Safatle fala sobre o cinismo contemporâneo. O riso é originariamente reconciliador. Ao longo da história da filosofia, todos lhe deram um lugar, sem que ele deixasse feridas no espírito. Hoje cabe pensar ao inverso: com a ajuda da dialética negativa de Adorno, e com a metapsicologia de Lacan. Não haverá no riso, além da sua positividade classicamente reconhecida, algo de puramente negativo, que só se manifesta plenamente no nosso mundo contemporâneo?

A virada ética da pós-modernidade

A política tende a se apagar entre o consenso e a guerra infinita contra o terror, enquanto que a arte oscila entre esforços de restauração dos laços sociais e o testemunho não representável ou o mal e a catástrofe absoluta. Este movimento não tem nada de uma fatalidade histórica, mas vale a pena examinar como ele conseguiu, invertendo-os, explorar os radicalismos filosófico, artístico e político. Analisar a crise exige da filosofia tanto voltar-se criticamente sobre si mesma lançar-se contra os seus limites para mergulhar em vários aspectos da nossa experiência atual. A prática e a concepção de guerra, a articulação entre teologia e política, as diferentes faces de nossa modernidade, e suas vertentes éticas e estéticas.

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