Café Filosófico

Identidades sociais e ressentimento psicológico

Esta edição do Café Filosófico é com Maria Rita Kehl. A palestra integra o módulo “Identidades contemporâneas: a psicanálise e os novos tempos da subjetividade”, que é de curadoria do psicanalista Jurandir Freire Costa.

Amigo, irmão, parceiro

Um Café Filosófico diferente. Neste programa do módulo “Amizade em tempo de risco”, a idéia não é falar sobre a amizade, mas viver a amizade. Dois irmãos, parceiros, artistas conhecidos no Brasil inteiro, que mantêm também uma profunda amizade. Assim o curador do módulo, o psicanalista Jorge Forbes, conversa com Chitãozinho e Xororó. Um programa regado à música e amizade.

Aprender pelas técnicas do amor

Com a modernidade, a técnica passou a influenciar cada aspecto da vida do indivíduo. Marcelo Coelho trata de dois grupos de tecnologia: as do corpo (como cirurgias plásticas, academias) e as da comunicação (internet, orkut, celular, chats). Técnicas que são herdeiras das revoluções industriais e indissociáveis do nosso modo de viver atual, atingem em cheio os encontros e desencontros amorosos. A técnica, hoje, faz parte do amor.

Marcelo Coelho: formado em Ciências Sociais pela USP, onde fez mestrado em sociologia com tese sobre a construção de Brasília e o governo Kkubitschek. É articulista da Folha de S. Paulo desde 1984. de 1997 a 2003, foi professor de jornalismo cultural na Faculdade Cásper Líbero. Publicou, entre outros, Gosto se discute (1994), Jantando com Melvin (1998) e Folha Explica Montaigne (2002).

Aprender a amar na música popular (um sarau de voz e violão)

O tema deste encontro, também um sarau de voz de violão, integra o módulo sob curadoria de Contardo Calligaris, psicanalista. Com o músico e professor Arthur Nestrovski e a cantora Ná Ozzetti.

Aprender a amar no teatro

Com o psicanalista Contardo Calligaris, curador do módulo “Século XXI: amar é coisa que se aprende”, e o dramaturgo e diretor teatral Gerald Thomas.

O casamento como fato afetivo

O casamento é uma das instituições humanas mais difíceis de definir. Ao longo da história, ele serviu nas suas origens como uma maneira de preservar a tribo, passou por uma fase em que servia para preservar o patrimônio de grupos e só muito recentemente na história da humanidade é visto como um fato afetivo.

Para falar desses vários, ângulos do casamento fato social, jurídico, afetivo, cultural, neste primeiro programa do módulo “o casamento como formação da identidade” o psicanalista Ivan Capelato investiga as relações entre o casamento e o nosso psiquismo. e apresenta uma abordagem incomoda e ousada.

Para capelato, a base afetiva do casamento não é o amor, mas sim a angústia. angústia que, segundo Freud e Lacan, nos move sempre na busca impossível para preencher um vazio existencial. E que acaba nos trazendo a aliança com o outro.

A sexualidade

Flávio Gikovate analisa que na cultura ocidental, o sexo sempre esteve associado à agressividade, ao jogo de poder, à competição, ao consumismo e à guerra dos sexos e não ao amor. Para Gikovate, a raiva puxa o desejo e está presente nas escolhas afetivas. Seu livro A libertação sexual fundamenta-se na ideia de que esta associação precisa ser desfeita em dois fenômenos distintos. Para ele, amor é uma sensação de paz e aconchego que se experimenta com o outro e sexo é uma sensação física de excitação que pode se experimentar sozinho.

Flávio Gikovate: médico psicoterapeuta formado pela USP em 1966, foi assistente clínico no Institute of psychiatry da Universidade de Londres. Colaborador de diversas revistas e jornais, autor de mais de 20 livros sobre os principais aspectos dos conflitos íntimos, especialmente os relacionados com a vida afetiva e sexual.

Édipo, adeus: o enfraquecimento do pai

“Pra aceitarmos a questão do Édipo, nós temos que aceitar a premissa fundamental que é a premissa do conflito do homem com a civilização. Se nós não aceitarmos essa premissa, nós não vamos falar em Édipo. O que Freud entende por conflito entre homem e a civilização? Quer dizer que entre o homem e a civilização não existe acordo possível. Porque tem sempre alguma coisa com ruído que rompe qualquer possibilidade de harmonia. Então existe sempre alguma coisa que lembra desse distanciamento e que nos leva a retomar a conversa. Se não fosse assim a gente fazia amor uma vez só na vida. Mas assim que a gente termina de fazer amor e diz eu te amo, a outra pessoa pergunta “mas ama mesmo?”. Quer dizer, a base freudiana diz que entre a pessoa e o mundo necessariamente existe uma distância. O homem não é co-natural, nem se comer o sanduíche natural da praia de Ipanema. O maior poeta brasileiro, tido como o maior poeta brasileiro, diz que não funcionam as tentativas que o homem pode fazer de ficar mais perto do mundo. Que o máximo que a gente consegue fazer ao tentar ser igualzinho ao mundo, por não suportar a distância em relação ao mundo, é fazer uma rima, mas jamais uma solução. Ou seja, se ele, Carlos Drummond de Andrade, resolvesse se chamar Raimundo, porque assim ficaria mais próximo do mundo, ele ainda assim teria uma rima, mas não uma solução. E o poeta diz do porquê disso, ao falar ‘porque é mais vasto o meu coração’. Porque tem algo na singularidade de cada um que está eternamente em conflito com qualquer resposta que o mundo possa dar. Nesse sentido, a psicanálise está muito longe de ser uma relação de harmonia. A psicanálise é a administração de conflito, igual à dívida brasileira, que não se paga, se administra”. Com o psicanalista Jorge Forbes.

Comer demais

Paulo Gaudêncio fala sobre comer demais e de outros excessos que cometemos, como resultado de fatores físicos, psicossomáticos, emocionais. Explica que o ser humano tem conflitos, mas faz escolhas buscando a satisfação. O que está em foco nesta palestra é a forma de lidar com nossas emoções básicas, como a angústia e a ansiedade, que podem resultar em frustração e busca de compensação. Gaudêncio nos mostra a diferença entre ser maduro e imaturo e nos ensina que aquele que melhor souber lidar com suas emoções, mais chances terá de ser feliz.

Tristeza

Este Café Filosófico, da série Balanço do Século XX – Paradigmas do Século XXI, tem como tema a tristeza, sob coordenação da filósofa Márcia Tiburi . Márcia Tiburi é professora do programa de pós-graduação em Filosofia e apresentadora do programa A bela e a Fera da TV Unisinos – Futura. A tristeza enquanto afeto tem uma história e Márcia Tiburi toca no núcleo atemporal desta questão. Estamos sempre submetidos ao presente e à impossibilidade de retornar a este presente. Não tocamos nem no passado, nem no futuro e ao mesmo tempo não podemos tocar nem mesmo no próprio presente. Sempre submetidos à sensação de finitude, a experiência da dor aparece como caráter efêmero e passageiro da existência. Ficar triste neste contexto é justamente se deparar com a dor de morrer e de morrer a conta-gotas, a cada momento, a cada instante. Esse sentimento está sempre acompanhado do luto e da melancolia e, no momento da nossa época, com a depressão. É necessário aprender para tornar a tristeza algo mais suportável, mas isso depende de uma compreensão histórica e cultural. É o que ela faz ao percorrer este sentimento, iluminando grandes filósofos e pensadores da história e provocando uma profunda reflexão quando diz que estamos vivendo o tempo de agora, uma verdade e uma beleza deste instante.

O excesso e o ideal de equilíbrio

“Édipo é o homem que faz a conexão entre o conhecimento e a ação. Nesse sentido ele quer saber tudo. Ele pode ir ao mais fundo que seja. E ele quer saber para agir. O saber dele é a condição de agir. À medida que ele faz esse inquérito, ele talvez descubra o que aconteceu, ele se tornará capaz de resolver o problema. Ele é um homem que resolve, portanto. E ele se recusa diante disso. E ele reage inclusive dizendo “vocês acham que eu sou filho de um pastor”? Ele não percebe o que está acontecendo. Ele diz “você e a minha mulher tem vergonha da minha origem, acha que está se rebaixando ao estar com o filho de um humilde pastor?”. Não entende nada . É espantoso como esse homem que acreditava saber o que era o homem, e que dessa maneira derrotou a Esfinge, de repente não percebe a tempestade que se avoluma sobre a face dele. Então ele afirma isso e continua tentando saber mais para agir mais, sem perceber que ele está chegando a um ponto em que o saber se torna a causa da inação. O saber vai se tornar justamente o que pesa tanto, que ele não poderá agir, apenas se auto-destruir. Então, de certa forma, Édipo é uma tragédia que pode ser resumida numa palavra grega que se aplica a todo o mundo trágico. Essa palavra é hybris. Ela pode ser traduzida como excesso, mas excesso como aquilo que foge à medida que é a que deve funcionar entre os humanos, ou mais até entre o mundo que estamos, no cosmo. Para que o cosmo funcione, há que cumprir uma medida. Quem vai além disso, quem é demasiado altivo, demasiado ambicioso, quem almeja mais do que está facultado ao humano comete este excesso, que é a hybris”. Com o professor Renato Janine Ribeiro, doutor e professor titular na USP. Dentre suas obras destaca-se Sociedade contra o social – o alto custo da vida pública no Brasil, prêmio Jabuti em 2001.

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