Séries

Casamento sem sexo

O casamento, como mostra o teatro, a literatura, o cinema, desde sempre, uma fonte inesgotável de atritos, afirma o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC-SP e coordenador da revista de psicanálise Percurso. Nesta palestra ele convida para uma reflexão sobre casamento sem sexo.

O enfrentamento das desigualdades sócio-territoriais e a necessidade de valores éticos

O objetivo do debate é discutir as referências teóricas para o enfrentamento dos processos de segregação e exclusão socio-espaciais que estruturam as cidades desiguais nas cidades pobres. Aldaiza Sposati, professora da PUC-SP, doutora em Serviço Social, é pesquisadora das desigualdades sociais urbanas. Márcio Pochamnn, do Instituto de Economia da Unicamp, é secretário municipal do desenvolvimento, trabalho e solidariedade de São Paulo.

Política territorial e capacidade administrativa

A gestora Miriam Belchior fala sobre o quanto a capacidade administrativa pode tolher as possibilidades de uma política territorial. “É fundamental considerar o pano de fundo em que esse debate se insere, que é a crise do Estado, e que estabelece limites e oportunidades para a discussão e para o aumento da capacidade administrativa. É na década de 1980 que se começa a questionar o tamanho do Estado de bem estar social. E começa a aparecer o jargão de Estado mínimo. Tudo é o mercado. Do lado do mercado está o bem. Do lado do Estado está o mal. Felizmente essa dicotomia acaba na década de 1990, quando a discussão passa a ser sobre o novo papel do Estado. Nesse contexto, falar de crise administrativa é falar sobre o limite que o Estado coloca sobre as iniciativas para o seu fortalecimento. Na medida em que se nega o espaço legítimo, qualquer iniciativa de fortalecê-lo é vista como desnecessária. Ou seja, ele momento de crise do Estado coloca um limite pra quem quer aumentar a capacidade do Estado funcionar melhor. Então qualquer contratação no âmbito do Estado é vista como empreguismo, mesmo em áreas que não tem nenhum aparelhamento, como a área ambiental, que é muito recente. Mas falar sobre capacidade também é falar sobre oportunidade. Afinal, se está em crise, é preciso melhorar seu funcionamento. Promover o enfrentamento das três dimensões da crise: a econômica (incapacidade para o financiamento), administrativa (burocratizada, centralizada, ineficiente) e política (distanciada dos cidadãos)”. Também com Eduardo Marques.

O mundo-fronteira

Paulo Eduardo Arantes é doutor em Filosofia pela Universidade Paris 10. Ele nos leva a uma reflexão sobre o mundo-fronteira. É verdade que o mundo já não é mais o mesmo desde 11 de setembro. Não é fácil, porém, dizer o que mudou. Entre tantas interpretações, gostaria de comentar uma particularmente abrangente segundo a qual a era do espaço teria chegado a seu termo, deixando claro que a Terra havia se tornado uma terra de fronteira global. Analisar a crise exige da Filosofia tanto voltar-se criticamente sobre si mesma, como lançar-se contra seus limites para mergulhar em vários aspectos da nossa experiência atual. A prática, a concepção de guerra, a articulação entre Teologia e Política, as diferentes faces da nossa modernidade e suas vertentes éticas e estéticas.

A aurora do século XXI: onde estamos?

Bento Prado Júnior é professor titular da Universidade Federal de São Carlos e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Ele propõe uma reflexão sobre como as mudanças e as reviravoltas na História impuseram fatos que nos obrigam a pensar no lugar da Filosofia no mundo e seu futuro imediato. “Quando eu me propus ao tema, eu tinha em mente um dos paradoxos da nossa contemporaneidade, o que há de fortemente regressivo nos processos desencadeados pelas novas tecnologias e pela nova economia, que nos conduziram a um renascimento do espírito bélico e a uma espécie de guerra planetária.”

O retorno do teológico-político

A convidada é Marilena Chauí, mestre, doutora livre-docente, titular em Filosofia pela USP, que reflete sobre o retorno do teológico-político. “O meu objetivo é examinar um pouco por que é que as guerras contemporâneas aparecem como se fossem guerras de religião. Evidentemente elas não são guerras de religião, nunca houve guerras de religião, isso não existe, mas é interessante saber porque é que essas guerras aparecem dessa maneira. E portanto a questão que eu vou me colocar é a do retorno de uma concepção da política na qual há uma presença muito forte não só da religião, mas da Teologia.”

Políticas territoriais, democracia e atores sociais

Com a urbanista Raquel Rolnik, Silvio Caccia Bava (sociólogo e diretor do Instituto Pólis), e Marcelo Balbo (diretor do curso de mestrado em Planejamento Urbano e Territorial para países em Desenvolvimento do Instituto Universitário de Veneza, na Itália). O objetivo do debate é problematizar os processos de participação cidadã de articulação entre os diversos atores sociais e de constituição de redes sociais na produção e transformação dos territórios.

O lugar dos pobres na cidade – modelos de provisão habitacional e política urbana

Fala Laura Bueno, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas: “É necessário uma definição de qual é o espaço que as pessoas pobres, mais pobres, vão ter na cidade, para que elas tenham acesso à cidade. Não o espaço segregado, de má qualidade. Porque a maior parte da nossa população, e ainda mais se vemos em escala brasileira e latino-americana, não tem rendimentos próprios, não gera renda suficiente para adquirir a maior parte dos bens no mercado, especialmente a moradia. Porque a moradia é uma mercadoria especial. Ela é uma mercadoria que requer muitos recursos financeiros para a sua produção, tanto que o próprio empresário precisa de financiamento para construir a moradia, e requer também financiamento ou muita poupança para o seu consumo, para comprar uma casa. Todos nós sabemos que a moradia é o bem mais caro. Você consegue comprar um carro, uma televisão, todos os eletrodomésticos, com facilidades de financiamento, inclusive muito maiores, do que uma casa.”

Entre a modernização instrumental e a emancipatória

A modernidade é bifronte. Uma face beberiana, voltada para a racionalidade instrumental, e uma face iluminista, voltada para a racionalidade comunicativa. Não se trata de fazer apoteose da modernidade funcional, hegemônica, nem de superar a modernidade por um salto para a frente, pós-moderno, nem tampouco de regredir para o arcaico – fundamentalismos etc. Mas de despertar de seu sonho secular a outra modernidade.

O cinismo contemporâneo

Vladimir Safatle fala sobre o cinismo contemporâneo. O riso é originariamente reconciliador. Ao longo da história da filosofia, todos lhe deram um lugar, sem que ele deixasse feridas no espírito. Hoje cabe pensar ao inverso: com a ajuda da dialética negativa de Adorno, e com a metapsicologia de Lacan. Não haverá no riso, além da sua positividade classicamente reconhecida, algo de puramente negativo, que só se manifesta plenamente no nosso mundo contemporâneo?

A virada ética da pós-modernidade

A política tende a se apagar entre o consenso e a guerra infinita contra o terror, enquanto que a arte oscila entre esforços de restauração dos laços sociais e o testemunho não representável ou o mal e a catástrofe absoluta. Este movimento não tem nada de uma fatalidade histórica, mas vale a pena examinar como ele conseguiu, invertendo-os, explorar os radicalismos filosófico, artístico e político. Analisar a crise exige da filosofia tanto voltar-se criticamente sobre si mesma lançar-se contra os seus limites para mergulhar em vários aspectos da nossa experiência atual. A prática e a concepção de guerra, a articulação entre teologia e política, as diferentes faces de nossa modernidade, e suas vertentes éticas e estéticas.

O necessário retorno ao mundo vivido

Estamos numa época em que impera a visão científica do mundo. Acha-se que as teorias científicas têm um valor ontológico – e que, portanto, a filosofia tornou-se inútil. As ciências dão uma imagem limitada e abstrata da realidade, que pressupõe uma camada de experiência mais originária, pela qual entramos em contato primeiro com a realidade, isto é, pela qual percebemos o mundo. O intuito da fenomenologia, uma das vertentes mais importantes da filosofia do século XX, é tentar descrever esta camada originária da experiência. Tarefa muito difícil, uma vez que essa camada fica encoberta pelas construções e projeções da cultura e da ciência. Merlau-Ponty dedicou sua obra inteira a uma fenomenologia da percepção, que visa dar conta da realidade tal como ela aparece originariamente. Da presença em estado puro, ou seja, do mundo sensível, antes que tenham sido encobertos pelas categorias oriundas da ação prática e do conhecimento científico. Com o filósofo francês Renaud Barbaras.

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